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Anthony Bourdain listens to Pedro Caxote, while he reminisces about Saudade

A Saudade e Anthony Bourdain

Saudade foi definida por Anthony Bourdain como uma espécie de Melancolia, uma tentativa de voltar a algo ou alguém que perdemos ou, talvez, o regresso a um momento feliz. Acho que só um Português consegue tentar definir e sentir a Saudade.

Todos os portugueses possuem uma ligação à terra muito intensa e à Saudade. É muito comum que nos cafés das cidades, em conversas corriqueiras, se ouça sempre a referência à aldeia. Em grande parte graças a todas as migrações internas que foram acontecendo em Portugal, essencialmente a partir do século XIX com a industrialização, quando famílias inteiras se mudaram do campo para as cidades em busca de um sonho encostado ao americano mas em versão Lusa.

O “vou à aldeia”, diz-se sem sentido pejorativo com uma nuance de Saudade, e mais do que um regresso ao Passado é um desejo de Futuro. Espera-se o fim da vida de trabalho para se poder, idealmente, voltar à terra e devolver o que lhe foi tirado, restituir a árvore ou os frutos às raízes. Amargar os sonhos que não foram concretizados e fazer a reconciliação com o campo, agricultando-o.

A saudade, constitui assim uma espécie de Happy Place ao qual retornamos para nos reconectar com o nosso ADN, que nos está intrinsecamente a lembrar o que é importante e do que somos feitos. Usar a Saudade para voltarmos aos nossos familiares perdidos, de uma forma ou outra, é voltarmos aos bons momentos e às recordações que os faziam especiais. É uma dor boa, de um tempo que nunca voltará mas que deixou as marcas que constituem as influências positivas no nosso carácter.

Há saudades de comida ou, para sermos justos, das emoções que lhes estão associadas e não exactamente dos sabores. A Ceia de Natal é, sejamos duros, aborrecida: Batatas cozidas, Bacalhau cozido e couves cozidas estão longe de ser um arco-íris de cor e sabor mas, quando saboreada noutras alturas do ano, possui uma carga emocional que nos deixa felizes. A memória está intimamente ligada às pessoas que nos acompanharam naquela refeição épica e não à comida em si. Costumamos ter saudades da comida das nossas famílias, porque de alguma forma estamos a transmitir a falta que nos faz a pessoa que a cozinhava ou as pessoas que se juntavam à mesa para dela usufruir.

Painel de Alto Relevo representando dois pescadores de bacalhau

A Pesca do Bacalhau representada no Armazém Frigorífico de Bacalhau em Massarelos

Pode-se fazer uma aproximação da Saudade a uma espécie de memória involuntária, como definida por Proust, em que há momentos em que de repente nos vem tudo à cabeça, um turbilhão de situações  e sentimentos que estão directamente relacionados com um passado que nunca voltará, uma situação que não se repete, e que nos remete para um momento ideal no tempo e espaço, que não é um exercício de memória, porque ela, muitas das vezes é fabricada, mas uma conjugação involuntária de factores que nos transmitem boas sensações. A Saudade, é uma caixa negra dos bons momentos que nos influenciaram e nos transformaram naquilo que somos hoje. Voltar lá, não é um exercício freudiano de auto-análise mas um transporte para o Happy Place que nos reconforta, como em Proust, e nos tira momentaneamente da miséria ou não.

Portugal possui esta palavra única por uma série de circunstâncias históricas e é um sentimento comum a todo o território, vingando apesar das diferenças Norte/Sul, Litoral/Interior. A Saudade nacional, muito presente na escrita, remete para os momentos áureos da História de Portugal, e embora se defina muitas vezes o seu nascimento com o desaparecimento de D. Sebastião, há raízes bem mais antigas, como por exemplo nas Cantigas de Amor do Século XI português. Sempre relacionada com a falta da mulher amada, tem sempre uma conotação triste, embora remeta para momentos felizes com a amada. É assim que se utiliza a saudade, de uma forma triste e melancólica por algo que foi bom mas já passou.

Infante D. Henrique na Conquista de Ceuta em 1415 – Painel de Jorge Colaço na Estação de S. Bento no Porto

Todas as glórias associadas a Portugal, como a definição das fronteiras em 1267, a não anexação por Espanha em 1383-85, os Descobrimentos Portugueses, a Restauração da Independência em 1640 marcaram a memória colectiva de uma forma indelével. A Máquina de Propaganda do Estado Novo usou e abusou de todos estes momentos para exacerbar o espírito nacionalista. Esta é a Saudade portuguesa, de um tempo glorioso de feitos notáveis de um país tão minúsculo em população e recursos que deu novos mundos ao mundo. Que chegou a ser uma das super-potências do Mundo. Este retorno ao Happy Place, devia ser o exemplo que todos deveríamos usar na delineação do nosso carácter mas que não se consegue observar em todo o país.

No Porto, tiramos mais proveito deste regresso, porque, em momentos de crise, o Porto é o primeiro a colher frutos desse uso inteligente da Saudade. Se calhar temos uma memória involuntária com mais vontade do que o resto do país ou, então porque o nosso Happy Place é mais recente. A implantação do liberalismo, todas as revoluções culturais e políticas dos séculos XIX e XX, a resistência histórica a tudo o que advém do governo central, o excesso e a sede de cultura, fazem-nos interpretar a nossa saudade como um possível Futuro.

Quando Anthony Bourdain esteve a gravar o Episódio 10 da Série 9 do seu Programa Parts Unknown, tive a oportunidade de ter uma discussão, bem mais longa dauela que é apresentada no episódio, sobre Saudade e o seu significado. Partilhámos a Lampreia à Bordalesa com o nosso amigo Pedro Caxote, e enquanto o ciclóstomo nos ia adoçando o palato, Bourdain tentou levar a Saudade para o significado que lhe é permitido aceder como Americano, um sentimento de nostalgia, de tristeza. Tive que lhe dizer que estava errado e, embora ele deva ter pensado que eu era maluco para o desafiar em plena CNN, que Saudade era diferente. O Senhor Pedro veio em meu auxílio, como bom lobo do mar, e partilhou a sua visão da Guerra Colonial Portuguesa, que levou uma geração inteira para o Ultramar, lutar uma guerra sem sentido.  Com lágrimas nos olhos, Pedro falou da camaradagem, dos cheiros, das paisagens, de sentimentos que o marcaram positivamente, muito embora estivesse colocado num dos piores sítios, a Guiné. Naquele momento, eu e o Tony fomos transportados para aquele cenário de Guerra, que Pedro, uma alma gentil e pura, recordou com carinho, com Saudade.

 

A 130 square meter representation of D. Quixote and his sidekick Sancho Pança

Street art in Porto

This article is not available in Portuguese, sorry.
When I came to Porto, back in 1996, the city was gray, due to his granite constructions and,I should confess, a little bit depressing; people from Lisbon described it like that, a gloomy, foggy city with no light whatsoever. That has changed and, besides all the improvements I’ve seen in twenty years, street art is one of the big responsible for the color and youth that is described by people from all over the world.

The only graffiti that I can recall, from the 1990’s, was the white circled A, the Anarchy symbol, drawn here and there by punks, and that doesn’t really count as street art or graffiti for that matter. Graffiti usually is an egotistical work which primary objective is to get known quickly, and by the largest number of people possible, that’s why painting trains is so popular amongst writers – trains cover large distances and you get known and famous outside your neighborhood or surroundings. Also, graffiti has a kind of code that can only be appreciated by other writers, excluding the rest of the common mortals, which makes that this kind of art is not well accepted socially.

A doll, a mouse and a lot of pidgeons

This wall as a lot of different artists including Lara Luís, the doll on the left.

Street art, on the other hand, is created to leave an impression on the rest of society’s sensibility, with themes that are well accepted and make people love it. It’s a more altruistic art form and, there’s always a message behind it, trying to change the society around the mural, collage, stencil, tiles, photography, stickers, whatever.
With the city’s evolution and, mainly after Porto European Capital of Culture in 2001, it opened up to exterior influences and showed a cosmopolitan side that was sleepy and numb, and soon artists, timidly, showed their true colors on the streets. First with some throw ups, hall of fame and then, connected with the hip-hop scene also growing quickly, the first pieces, planned and getting from the inside to the outside.

But what boosted Porto’s Street Art scene was a completely different thing.

A long mural in JArdimdas Virtudes, one of the best viewpoints in town.

Hazul, the most prolific writer in town, painted this huge mural in Cooperativa Árvore.

Graffiti Wars

Rui Rio was Porto’s Mayor from 2001 to 2013 and was known for its economic efficiency and the complete disregard for arts. Looking back, the citizens always look back and remember that Culture in the City, during this period, was created and produced  by  the private sector, and that the Municipality thought that it was a luxury that the public vaults couldn’t afford. At the same time, thousands of euros were being spent on the race circuit of Boavista, the mayor’s own pipe dream.  While acting like this, and moved by the complaints of some citizens, Rio’s administration created the Anti-Graffiti Squad to wipe clean all the walls, independently if they were more or less socially accepted.

There are a lot of powerful catalysts and the most flammable is Repression.

In 2013, the anti-graffiti squad covered one of Hazul’s murals in the City center and soon, pictures, with viral speed, were being shared on the Internet. There was a rise up against this act, comparing it with burning books, blocking freedom of speech and one more drop to kill all art forms in Porto.  Rui Rio’s profile on Wikipedia was “vandalized” with sarcastic remarks, implying that he was only doing that because he used to be the CEO of one of the biggest Portuguese paint companies.

Quickly, out of nowhere, the once quiet city Writers, started sabotaging the anti-graffiti squad with… paint. During the day, the squad was covering murals with white or yellow paint,  and in the evening, the artists would go to the same places and paint a straight black line on the wall’s length and one sentence in Portuguese: Continua a pintar (keep painting). This was a very simple and effective protest that was cheap to one side and very expensive to the municipality, that spent 150 000 euros on this campaign, with immediate results and great loss over time.

colorful faces in a store front

Godmess used an abandoned shop window to do this paste up.

Soon Hazul, turned into a martyr, his pieces started to be spared on the cover up rampage, and he was immediately compared with Bansky, first due to the VIP treatment and also because his identity was surrounded by secrecy. People, not only the street artists, thought that it was unfair for the other artists and some buzz started to come up, creating the moment for changes.

City Hall recognized that some of the murals painted were art and some were not, so they decided to create a kind of license for street artists. Everyone could apply paying a fee but they had to submit a project and tell where they were going to intervene. At the same time, the first street art law was created in Portugal imposing huge fines for transgressors. Trying to regulate what was art and what was not,  City Hall hired a street artist to recreate old pictures from Porto on some walls, and subliminally saying that Porto was static and orderly…

You can’t harness something that has illegal as its middle name.

 

A black and white male figure over a red background

Draw used the side of a building at the entrance of Luís I Bridge to create his host – AN.FI.TRI.ÃO. You can spot from Gaia.

Street Art, a new approach

October 2013, Rui Moreira is elected Mayor of Porto. This independent candidate, entrepreneur, from Porto’s finest families, with a deep passion for his City, faces his new job as everything he did in his business life. Instead of acting like  a Mayor, he starts acting as a CEO surrounding himself with the best and quickly getting the support of is contenders in the past election. He has one thing in mind, to restore Porto’s glory and straightforwardness that is part of its spirit for centuries.

One of the first individuals that he gets to help him is his friend Paulo Cunha e Silva, a humanist, intellectual and also a Porto Lover. His dream was to turn Porto into a “Liquid city[…] where everything can happen everywhere.”  and street art was one of the gears of his machine. He envisioned different art forms entwined in a big street festival, including all the artists and all the citizens, giving today’s generations food for thought so they could be better in the future. Unfortunately, he passed away in November 2015, but his legacy is kept alive.

A Lady smiles at a red naked giraffe

A mix between Godmess and Chei Krew – the giraffe head.

In April 2014, the first legal Mural in Porto is inaugurated in the corner between Rua Miguel Bombarda and Rua Diogo Brandão, one of the gateways to Bairro das Artes, the city’s art galleries district. A 130 square meter representation of D. Quixote and his sidekick Sancho Pança, represent all the windmills that street art had to face until that moment and it took Circus Network, through the hands of local artists Fedor, Mesk and Mots, a long time to have it done. Today it is the proof that legal murals are the way to go forward in a City that is evolving every day. This was part of a project called Ru+A created by Imagin’o Porto associated with Réplica and Circus Network, which intervened in one of the Shopping streets, Rua de Cedofeita, creating murals in the store fronts called Urban Frames.

After that, City Hall commissioned an intervention in Avenida dos Aliados on the phone booths, then a dedicated street art exhibit in Edifício Axa and a huge Mural by Hazul and Mr. Dheo in one of the car parking owned by the City, very close to Trindade Metro Station. Next, all the electricity boxes in Rua das Flores were decorated by Porto street artists in a joint venture between the City Hall and the National Electricity company.  A second intervention in Rua de Cedofeita  is getting ready as I write this words.

A face with a hat that has a Porto tram in it.

Costah adds his collages all over the city. This one is a joint venture with Bug Bolito.

Also, close to Palácio de Cristal, one of the city’s parks from the end of the 19th century, in Rua da Restauração, there’s a huge wall that every 6 months has the murals replaced, creating an opportunity for new names of the street art scene.

But what about the artists?

There’s a lot of Porto based artists but we can only name a few that you can easily find on the streets. Hazul is still one of the most prolific artists in town and he uses blocked window and door frames as a canvas to his pieces that you can find everywhere. Costah is another popular artist mostly with collage creating colorful and funny compositions, depicting birds or characters with long arms and legs. Chei Krew are the ones behind the cute giraffes that you can find here and there. #PreencherEspaçosVazios and Sem use tiles for their interventions, with a different approach. And what about girls on street art? Lara Luís and Eleonor, are the names to remember. From illustration directly to street art, putting some more color in our streets. International artists passing by also leave their mark, like Selor which is somehow active at the City Center.

Today

Street art is changing and it is part of its nature. it is not a thing to last for centuries, sometimes just a few days and its destroyed or replaced by another one. Porto is now facing some challenges and one is that there’s still some walls being covered by the City Hall’s crews, trying to keep some order. However, there’s not a jury deciding what’s good or bad, just a wall painter that spares what’s attractive to him – I think this is very romantic and ironic. Rules, nowadays, say that you submit a project and, if accepted, you’ll be licensed for free, on a clear incentive to lighten up the streets, and City Hall’s commissioned works have an economic incentive starting in 300€. On the other hand, some wannabe street artists try to get easy fame trying to emulate Hazul’s martyrdom, putting their pieces in strategic places and, when destroyed, paying campaigns on Facebook, using people’s blindness to spread the “injustice” and get known fast. This is not honest and frowned upon  by the street art community.

A huge portrait covering a building

Agustina Bessa Luís one of Porto’s greatest writers depicted on a stencil by Eime

While in Porto, keep your eyes and mind open and feel how the street art empowers the cobblestone and makes the City better, no matter how old or young you are. Pay attention to the pride people have for having it next door, and the smiles on their faces when someone takes a picture – for most Porto citizens, Street Art is also Heritage.

Dedicated Store

In a world that is almost exclusively masculine, the only place where street artists can buy all their supplies is managed by girls. Dedicated Store besides selling supplies, promote artists and activities that enrich the street art scene and, if you want to know a lot about the theme, go there and ask away.

Circus Network

Porto is a small city with tons of people with good ideas that try to make the society around them better than it is while making some money in the process. Circus Network, is the first art gallery in town dedicated to street art were you can find some resident artists that are commissioned by them, and also all the information about Porto’s street art Scene. Owned and managed by André and Ana – which has a masters degree in street art and knows almost everything about it – it is an art gallery, a co-working space and a great place to drop by. They are the ones behind the first legal Mural in town.

Carved wall by Vhils

Look at Porto by Vhils, with reverse graffiti technique that removes layers instead of adding.

Glossary

Writer – The one that does graffiti (don’t use Graffiti artist or Graffiter)

Hall of Fame – Synonym to Masterpiece or Piece.

Throw ups – A work that is painted very quickly.

Tag – Writer’s signature.

Crew – Group of Writers that gather to do graffiti

Piece – A big composition created with time.

A winged man with a broken chain in it's hand

Avenida dos Aliados – Porto

A Avenida dos Aliados, mais que uma avenida é uma Praça que funciona como a sala de estar dos Portuenses e todos os (i)móveis tem a sua história. Nós contamos.

3D Map of Avenida dos Aliados

A Avenida dos Aliados é só a parte verde do mapa. Obrigadinho Google!

Segundo a grande maioria dos portuenses, a Avenida dos Aliados era mais bonita e aprazível antes de 2005, ano em que Siza Vieira e Souto de Moura a requalificaram e a transformaram num espaço cinzento, mas multi-funções. Até aí, os Aliados eram uma grande área ajardinada mesclada, aqui e ali, com a magnífica calçada portuguesa, o que faz com que existam ainda muitas pessoas a lamentar a sua “destruição”. No entanto há que compreender que é muito mais fácil e económico gerir um espaço como o actual do que gastar milhares de euros a reparar os jardins após cada festa que se faça no Porto.

Os tripeiros gostam de festejar e a Avenida dos Aliados é escolhida para todas as celebrações, desde a Passagem de Ano com o fogo-de-artifício, o S. João do Porto com uma multidão sem distinções sociais numa enorme celebração pagã, a celebração das vitórias do Futebol Clube do Porto, nos últimos anos escassas, e muitos outros eventos que não são fixos mas mobilizam imensa gente. Tornou-se muito fácil montar e desmontar palcos, pistas de gelo, pavilhões para feiras, e até a gigantesca árvore de Natal.

Enduro Bikes parked at Avenida dos Aliados

Motas de Enduro durante o Porto Extreme Lagares 2015

Para o comum dos mortais, a Avenida dos Aliados é a área que começa no Palácio das Cardosas, que alberga o Hotel Intercontinental, e termina na Câmara Municipal do Porto. Na realidade, a parte mais a Sul é a Praça da Liberdade, com D. Pedro IV no centro, e a parte superior é a Praça General Humberto Delgado, em frente à sede do Município, limitada pelos entroncamentos das duas ruas diagonais, Ramalho Ortigão e Rodrigues Sampaio. A título de curiosidade, num raio de 100 metros a partir da Câmara do Porto concentram-se nove ruas, uma avenida e uma praça.

O nome inicial da Avenida dos Aliados era  Avenida das Nações Aliadas em memória  da vitória da Triplice Entente na Primeira Guerra Mundial, na qual Portugal participou. Projectada, inicialmente por Barry Parker, começou a ser rasgada em 1916 com a destruição da Rua de D. Pedro, o Bairro do Laranjal e os Paços do Concelho que presidiam a Praça da Liberdade.  Após a demolição, Marques da Silva, o arquitecto da Estação de S. Bento, envolve-se no projecto e desenha os dois edifícios que enquadram o lado Sul, à esquerda o Edifício da Nacional (1) e à direita o Banco Joaquim Emílio Pinto Leite (11). É responsável ainda pela sede do Jornal de Notícias (8), uns metros acima.

Christmas in front of City Hall

A Árvore de Natal e a Câmara do Porto

Da mesma forma, Júlio de Brito é responsável pelos dois edifícios que limitam a Avenida dos Aliados do lado Norte, à esquerda o edifício  da Companhia de Seguros Garantia (4) e à direita o da Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe (7). Compreende-se que nesta área nobre se insiram bancos, companhias de seguros e sedes de jornais, mas uma companhia de fiação? Se pensarmos que em 1926 a empresa possuía em Fafe, nessa altura uma pequena vila, uma creche com capacidade para 200 crianças, um infantário, e uma escola primária, compreende-se melhor o seu poderio económico e a integração nos Aliados, revelando-nos ao mesmo tempo a pujança da indústria têxtil no Norte.

Outro dos bancos integrados na Avenida dos Aliados é a Caixa Geral de Depósitos (9), banco do Estado, que foi concluído em 1932 segundo desenho de Pardal Monteiro. Ainda em funcionamento no mesmo local, alberga também a galeria de arte do grupo financeiro, a Culturgest numa sala que só por si já vale a pena visitar. Um pouco abaixo o edifício do Montepio Geral (10), outro banco, acolhe exposições temporárias grátis.

The inside of Culturgest Art Gallery

O interior da Culturgest

Do outro lado da rua, nas esquinas da Rua Elísio de Melo, temos à esquerda a sede do jornal o Comércio do Porto(3), da autoria de Rogério de Azevedo, e do lado oposto o Café Guarany(2), desenhado pelo mesmo autor, com um interessante baixo-relevo de Henrique Moreira, integrado num edifício de Michelangelo Soa.

Na parte central da Avenida dos Aliados, a partir da Praça da Liberdade, encontramos três esculturas. A Juventude (14), também conhecida por Menina Nua, sentada numa coluna que brota água através de quatro máscaras que simbolizam as Estações do Ano, é da autoria de Henrique Moreira que também assina a Abundância(13), ou Os Meninos, um pouco mais acima, que em tempos já foram dourados. Já na Praça General Humberto Delgado temos o escritor Almeida Garret (12), do escultor Salvador Barata Feyo, que guarda com as suas palavras a entrada da Câmara Municipal.

Almeida Garret in between two Atlas

Almeida Garrett a guardar entrada da Câmara

Terminado em 1955 depois de muitas peripécias e alterações ao projecto, o edifício da Câmara Municipal do Porto (5) começou a ser construído em 1920 e teve dois arquitectos envolvidos na sua concepção, Correia da Silva no início e Carlos Ramos, que concluiu a obra. Carlos Ramos é o arquitecto responsável pelo projecto do Palácio dos Correios(6) onde funciona o Gabinete do Munícipe, uma extensão dos serviços camarários. É possível entrar na Câmara Municipal, visitar os Passos Perdidos e apreciar as pinturas de estilo romântico no seu tecto, com destaque para a Senhora da Vandoma, padroeira da Cidade. Também aqui encontramos o omnipresente Henrique Moreira, com duas esculturas que enquadram a escadaria, representando a Indústria  e a Arte. Este mesmo escultor é responsável pelas cariátides da frontaria do edifício, as do lado direito, já que as outras seis foram concebidas por Sousa Caldas que, por sua vez é o autor do Génio da Independência, a figura alada com uma corrente quebrada na mão direita e uma bandeira ao ombro que encima o topo do já referido edifício da Nacional (1).

Abundância by Henrique Moreira and Caixa Geral de Depósitos

Abundância de Henrique Moreira

A Avenida dos Aliados da actualidade sofreu alterações através dos tempos, que a vão adaptando às necessidades da população, no passado mais Romântica, hoje mais cosmopolita, e a última alteração às mãos de dois prémios Pritzker, e à boleia das obras do Metro do Porto, actualizaram-na. Podemos defender que a Avenida ajardinada era mais aprazível se bem que pouco prática, e argumentar que tudo o que foi destruído para que ela tivesse a actual configuração também tinha o seu valor. Suspiro todos os dias pela Praça de D. Pedro e a sua magnífica calçada, pela capela dos Reis Magos, pelo Hotel Francoforte e pelo magnífico Café Chaves mas não se pode ter tudo.

Souto de Moura and Siza Vieira project

A Avenida dos Aliados

Os Aliados possuem alguns segredos que não conseguimos descrever aqui por isso sugerimos que se juntem a nós no nosso Porto para Principiantes, e garantimos que pouco fica por contar.,

hard boiled Egg caged inside the dough

Folar da Páscoa, uma Herança Judai ...

O Folar em Portugal é associado à Páscoa, existindo uma versão que será de origem Judaica. Nas pastelarias do Porto pode ser encontrado durante todo o ano nas opções doce ou salgada.

O Folar possui dois significados que estão associados um ao outro. O primeiro refere-se a uma espécie de bola que pode ser doce ou salgada, dependendo da zona onde é confeccionada, e que é apreciada na época da Páscoa. O segundo significado está ligado à tradição Católica, de na mesma época, os padrinhos oferecerem aos seus afilhados uma iguaria deste tipo. Com o tempo, deixou de se oferecer a Bola e substitui-se por dinheiro que se apropriou do nome Folar. Se as famílias do Norte de Portugal já gostam de falar alto, um pouco como os Italianos, é engraçado ver o ritual “mafioso” dos familiares passarem uma nota dobrada, até ao máximo possível, discretamente, aos miúdos da família.

Quando era mais novo, lembro-me de viver os últimos dias antes do Domingo de Páscoa antecipando o encontro com a minha Madrinha que, orgulhosa, me oferecia a “notinha”, que eu usava para comprar um livro.  Nessa altura pensava que a Sexta-Feira Santa era o prelúdio dos dias de comer tudo o que me apetecesse – Domingo de Páscoa e Pascoela (Segunda-Feira) e que o centro do mundo era a religião Católica e que tudo daí derivava.

A semana passada ao fazer uma pesquisa sobre as comidas tradicionais da Páscoa, descobri alguns factos, interessantes, que tornaram a minha Semana Santa ainda mais interessante.

Antes de avançar temos que caracterizar o Folar, que se divide em duas versões, a salgada, que conta com carnes e enchidos de Porco, e a doce, com uma receita que pouco varia consoante as regiões e é facilmente identificável por ter um ovo cozido sobre o qual se coloca uma cruz feita de massa. O salgado é característico de Trás-os-Montes e Alto Douro, e o doce é mais comum nas Beiras – Alta, Baixa, Litoral e Interior – existindo também, aqui e ali, no Minho, Algarve e até Alentejo.  O mais interessante é que a predominância do Folar doce é mais intensa em zonas de presença dos Marranos, os cripto-judeus que ficaram em Portugal, em segredo, depois do édito de expulsão de 1496.

Folar o doce da páscoa

O Folar Português com o ovo cozido

Enquanto lia um artigo sobre as tradições associadas à celebração do Purim dos Judeus Sefarditas, descobri que o Folar Católico é, na tradição Judaica, conhecido como Huevos de Haman ou Foulare. Em Ladino, a linguagem dos judeus da Península Ibérica, uma mistura entre Português e Castelhano arcaicos, Foulare significa embrulhado ou envolto e que, decerto deu origem à palavra grega folariko que define o mesmo tipo de sobremesa.

O Purim relembra a vitória da rainha Ester e do seu tio Mordecai sobre Haman que tentou destruir os Judeus do Império Persa, como descrito na Meguilat de Ester. Estas festividades coincidem com o final do Inverno, início da Primavera e tem algumas tradições associadas como dar dinheiro aos pobres, enviar prendas em forma de comida, beber imenso álcool e degustar comidas tradicionais como o Folar, cujo ovo representa Haman na prisão.

Para os Católicos, o Folar tem uma lenda associada, que relaciona a Bôla da Páscoa ao espírito de Paz e Reconciliação.

Com alguma sorte, enquanto estiver no Porto, poderá encontrar outro tipo de Folar, da região de Fornos de Algodres, que pode ser outra ligação entre as tradições Judaicas e Católicas. Para os Judeus é um pão entrançado que se come em todas as celebrações desde o Hannukah ao Yum Kippur e também no Shabat, que se chama Challah. Também é comido na Pessach – palavra hebraica que dá origem à palavra Páscoa.

Se quiser descobrir um pouco mais das tradições Judaicas no Porto, contacte-nos e teremos imenso prazer em ajudá-lo.

O Metro do Porto não é um Eléctric ...

O Metro do Porto é confundido  com o Eléctrico, especialmente pelos nossos amigos de Lisboa mas, independentemente da designação, foi a melhor coisa que aconteceu ao Porto no Passado recente.

 

O Metro do Porto revolucionou a forma como as pessoas se movimentam na Cidade, libertando as ruas, criando ligações mais fluídas e revitalizando o Centro. A melhor forma de compreender o antes e o depois, é seguir esta curta cronologia pessoal.

Setembro de 1996: Cheguei ao Porto para estudar Arqueologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Lembro-me bem que para ir do Campo Alegre, onde fica a Faculdade para a Estação de S. Bento, tinha que usar um de três autocarros, entre os quais o famigerado 78, que me levava numa malcheirosa e transpirada viagem de 2.5 km, num tempo record de 45 minutos!!! Rapidamente percebi que os caracóis ultrapassavam o autocarro e comecei a ir a pé. Passei a compreender melhor a Cidade e ainda poupava vinte minutos em relação à viagem do 78.

Dezembro de 2002: Inaugura-se a primeira linha do Metro que liga as estações do Senhor de Matosinhos com a renovada Estação da Trindade, começando a mudar a vida do Porto para sempre.

Hoje: Consigo  fazer a mesma viagem que fazia em 1996 no magnífico tempo de… 27 minutos, e ainda acrescento 1.5 km à viagem!

Toda a gente sabe que é impossível fazer qualquer coisa no Porto sem que se manifeste o espírito invejoso de Lisboa  que, imediatamente, começou a dizer que o Metro do Porto era um Eléctrico porque 90% do seu percurso se faz à superfície mas, chegaram atrasados. O Porto usa o sentido de humor como mecanismo de auto-defesa e é o primeiro a fazer a auto-crítica. Lembro-me de ouvir os velhotes nos tascos a dizer que tínhamos um Eléctrico de ricos e que não ia servir para nada.

O metro desce os carris em direcção à entrada da Casa da Música

Parece um Eléctrico mas não é

Como é que funciona?

A primeira coisa a reter é que o M que simboliza o Metro é Azul, como as cores da Cidade e as do FC Porto. Os únicos sinais vermelhos que temos na cidade, são os de proibição e, nunca usamos cores que nos façam lembrar as dos “vermelhos” do Benfica.

A seguir é necessário comprar o Cartão Andante, também azul, que é recarregável, reutilizável e válido só para uma pessoa. Para além disto convém não esquecer que tem que ser validado nas colunas amarelas à entrada das estações sempre que se entrar ou sair ou se mudar de estação. Pode ser comprado nas máquinas, à entrada, com preços que vão de 1,20€ a 5€ – o Andante custa 0,60€ que estão incluídos quando se compra a primeira viagem.  Como exemplo, a melhor forma de vir do Aeroporto para o Centro é de Metro e, para isto, é necessário um título de viagem Z4 que custa 2,45€, 1,85€ para a viagem e 0.60€ referente ao Andante.

Uma vez validado o Andante, pode-se usar a rede do Metro durante um determinado período de tempo, de uma hora para o Z2, até três horas para o Z12, sendo possível ir às compras ao Mercado do Bolhão e voltar para casa com o mesmo título de transporte, que deve sempre ser validado.

Azulejos com vendedoras do Bolhão

Painel de Júlio Resende representando o Mercado do Bolhão

Como é que sei que zona devo carregar no Andante para a minha viagem? Esqueça os mapas e esquemas que abundam nas estações e, simplesmente, concentre-se na lista amarela do lado direito da máquina de emissão de bilhetes. Esta lista alfabética relaciona todas as estações de metro tendo como origem aquela em que se encontra, definindo o tipo de título que é necessário para a sua viagem. Desta forma, da estação Aeroporto para a Trindade, no centro do Porto, é necessário um título Z4 e, dos Aliados para a charmosa Vila do Conde, um título Z6.

O site do Metro do Porto possui uma ferramenta que permite planear a viagem e dá uma informação muito completa. Também muito útil é o Google Transit do Google Maps que, para além de planear  as viagens do Metro, inclui planeamento com ligações a autocarros e comboios, mostrando preços, tempos e as melhores opções.

Para percorrer a zona central do Porto será necessário um título do tipo Z2, servindo as estações de referência como Aliados, S. Bento, Mercado do Bolhão, Casa da Música, Estádio do Dragão, incluindo Vila Nova de Gaia no outro lado da ponte D. Luís.  Para chegar ao oceano ou ao Parque da Cidade, a melhor opção é ir até Matosinhos para as estações de Matosinhos Sul ou Brito Capelo, nunca esquecendo que é necessário mudar a Zona no Andante.

Não opte pela promoção das dez viagens, onde é oferecida uma, excepto se quiser fazer uma visita à Rede de Metro que venceu o prémio de Harvard de Design Urbano Veronica Rudge Green. Contando com dois portuenses vencedores do Prémio Pritzker, Eduardo Souto de Moura Álvaro Siza Vieira,  em conjunto com outros afamados arquitectos portugueses, foi tão bem concebida que mereceu as seguintes palavras do Júri do Prémio: ” O Metro do Porto manifesta, em relação ao domínio público, um altruísmo incomum num projecto de infra-estruturas contemporâneo.

Duas gigantescas clarabóias iluminam a estação de metro da Casa da Música

A estação da Casa da Música de Eduardo Souto de Moura

Alguns anos se passaram desde que o Metro começou, silencioso, a percorrer as entranhas do Velho Burgo, e a superfície com o seu amarelo e preto que se desloca rapidamente aos municípios da vizinhança. É um facto consumado que, hoje, estamos muito melhor do que no passado e que, graças ao Metro, a Cidade se reinventou, permitindo às pessoas a deslocação eficaz seja para as suas compras, um passeio ou, como forma de evitar usar o automóvel para as festas, como o S. João, ou a Queima das Fitas. Trouxe também uma forma de facilitar os movimentos pendulares entre locais que até aí estavam menos privilegiados no acesso ao Centro, como Gondomar e Maia, valorizando os acessos de outros locais que tinham a vida mais facilitada como Vila Nova de Gaia e Póvoa do Varzim.

O Metro evolui com a Cidade e ambiciona, como ela, sempre mais, querendo e necessitando crescer da sua forma exemplar, para alguns, com falhas para outros. Uma coisa, porém é certa, a qualidade de vida que o Metro proporcionou aos portuenses é indiscutível.

TAP e as contas à Moda do Porto

Sempre fui mau aluno a matemática, mas se me sentar com um papel e um lápis (e uma máquina calculadora) consigo fazer umas contas que os gestores da TAP não o conseguem, estranhamente) fazer.

Acho então um pouco suspeito, que uma empresa crie uma ponte aérea Porto – Lisboa, com 16 frequências diárias – graças ao bater de pé de Rui Moreira são 18 – com aviões ATR-72 e Embraer 190 e Airbus A320, “sempre que a procura o justificar”.

Contas rápidas:

Capacidade máxima do ATR-72 – 72 Passageiros

Valor de cada viagem – desde 39€

Facturação se o avião for cheio – 2808€

Capacidade máxima do Embraer 190 – 114 passageiros

Valor de cada viagem – desde 39€

Facturação se o avião for cheio – 4446€

A empresa tem que pagar (pelo menos):

Tripulantes: presumo que pelo menos 5 (dois pilotos de certeza mais pessoal de cabine)

Taxas aeroportuárias;

Manutenção das aeronaves;

Impostos;

Combustível.

As grandes questões é que os aviões nunca irão cheios, por isso o dinheiro a entrar em caixa será menor; com tantos voos, de certeza que alguns irão vazios, ou quase.

Se estes dão pouco lucro, ou muito prejuízo, porque é que se cancelaram rotas do Porto e para o Porto que tinham cerca de 90% de ocupação? Esses que os senhores da TAP dizem que não davam lucro??? Ou há outra razão nos bastidores, ou outras, como afirma Rui Moreira.

A minha pergunta é, será que isto dá lucro ou os aviões andam a água?

Anda comigo ver os aviões – ...

Uma pequena história de invejas, polaridades e jesuítas. Em 1872, Eça de Queirós escrevia uma carta ao finado D. Pedro IV, relatando-lhe um episódio que acontecera em Lisboa. Em 2016 António Monteiro, porta-voz da TAP, com uma incomensurável boa educação  aconselha Rui Moreira  “…que se vá  queixar  a Salazar”.

Nessa  carta, Eça, descreve o Porto da seguinte forma: “O Porto já não é aquela seca e escura cidade, rude e plebeia, de ruas estreitas e agitadas, impertinente e cheia de oposição, comendo alegremente o arroz e bacalhau, dançando nos bailes improvisados, onde as mulheres iam com o pobre vestido de chita da Rua das Flores – o Porto, ainda com feições de burgo antigo, com as suas dinastias de comerciantes honrados, os seus tamancos estóicos, impassível diante dos redutos, sensível diante dos melodramas do teatro nacional, patriota, resmungão e rezando ao senhor de Matosinhos!”

O Porto já há muitos anos que se revitaliza, com uma vida e energia que ensombram a Capital, com um crescimento apoiado e sustentado, que faz as maravilhas, primeiro do Mundo, depois da Europa, e só nos últimos meses, de Portugal – pouco muda de um século para o outro. O Porto continua resmungão e acolhedor, bon-vivant, e empreendedor, cospe para o chão e acolhe com educação. A sua autenticidade provoca a admiração dos facilmente impressionáveis americanos e comove os empedernidos alemães, que ao balcão de um qualquer tasco recebem uma lição de pastelaria, de como bem receber e, no fim, com a generosidade Invicta, não pagam nada.

Adiantada a descrição, Eça de Queirós relata o que se passou no Porto para inspirar Lisboa.

“O Porto, pois Imperial Senhor, lembrou-se, por ocasião da presença de el-Rei, de fazer uma festa constitucional. Uma festa constitucional para fazer perrice aos jesuítas. […] Aquela boa cidade ficou, dos tempos de Vossa Majestade, com os hábitos de se bater. Vossa Majestade acostumou-os tão bem, que eles não podem dispensar-se de ter um inimigo a vencer.”

O Porto, sim, herdou de muitos a vontade de se bater e, uma coisa é certa, as revoluções “embrionam” no Porto porque os cidadãos do Porto não se ficam. Batem-se contra Mouros, Espanhóis, Franceses, Ingleses, Jesuítas, contra o Poder Central (Sempre!), contra Lisboa – Porque gostam de questionar. Num mundo de ovelhas, o Porto é uma cabra – não segue rebanhos, é livre e insurrecto.

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Red Bull Air Race 2008

Eça diz: “Ora, quando em Lisboa se soube que o Porto dava esta grande festa – Lisboa teve um estremecimento de cólera. Lisboa teve a tradicional, a costumada inveja. O Porto tinha feito uma grande festa constitucional – Lisboa não tinha nenhuma!”

Esta é a história do Velho Burgo, quando tudo cria e tudo tem, lá vem Lisboa com a saia cor de mar, que em três tempos tudo vai estragar. Nunca será demais lembrar a festa que em 2007 o Porto “criou”, que levou às margens do Douro centenas de milhares de pessoas, numa celebração aberta, franca e honesta. Ora os jesuítas da Capital, incluindo o Padre Couto, agora no poder, acharam bonita a Festa Pá e também a quiseram. Como numa birra de miúdos a Red Bull cancelou a prova em Portugal, numa decisão nada solomónica que, mais uma vez, prejudicou mais o Porto que Lisboa.

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Red Bull Air Race 2008

Já lá escrevia Eça: “O facto é, Senhor , que, como o Porto tinha a sua festa constitucional, Lisboa quis ter a sua[…] Que quer Vossa Majestade? – Lisboa faz o que pode: quem tem um temperamento saloio não pode tirar dele requintes de artista. Lisboa é uma cidade saloia; é uma cidade de fora de portas; é uma cidade de aldeia. A sua imaginação, violentada para conceber uma festa, não pode produzir mais que o arraial. Foguetes e filarmónicas – eis que ela sabe dar de mais delicado aos heróis que ama.”

E a questão é esta, a TAP, agora privatizada, faz parte, parece-nos, de uma estratégia conjunta com Lisboa e o Poder Central para enterrar uns largos mil milhões num outro aeroporto, Ota ou Alcochete. Uma das formas de o conseguir é sobrecarregar o aeroporto de Lisboa com todos os voos que forem possíveis para dizer que o mesmo está a rebentar pelas costuras. Da mesma forma, o desvio de rotas que, até agora eram directas para o Porto, promove o aumento das estadias na Capital, mais uma vez fazendo-a crescer desmesuradamente em relação ao resto do País. A criação, pela nova TAP, de uma ponte aérea frequente entre Porto e Lisboa, só nos faz lembrar a reactivação da ponte aérea entre Portimão e Bragança – O Porto passa a ter um aeródromo.

Quando “as quatro ligações que a TAP promete suspender a partir de março, representaram em 2015, para a companhia, o transporte de perto de 190 mil passageiros, em 1.867 voos de ida e volta” e tiveram uma taxa de ocupação a rondar os 90% nesse mesmo períodoa lgo cheira a esturro. Nenhuma companhia deita dinheiro assim pela janela. Nenhuma empresa se dá ao luxo de fechar a porta a 1.867 aviões CHEIOS!

Em momentos em que se fala muito da microcefalia provocada pelo vírus Zika, Portugal sofre de macrocefalia, com a cabeça em constante crescimento, esquecendo-se a mesma que precisa de um corpo que a sustente.

 

Ricardo Brochado

Presépio e Natividade – A tr ...

Um Roteiro dos presépios visitáveis no Porto. No início de Dezembro é o momento para se instalar, em todas as casas do Porto, a árvore de Natal e o Presépio, pelo menos nas famílias tradicionais católicas.

O Presépio ou Natividade, geralmente, é composto por figuras de barro, na sua maioria dos barristas de Barcelos e, em conjunto, representam o Nascimento de Jesus Cristo em Belém. No Porto, o melhor local para os encontrar, é nas igrejas e em alguns museus.

O primeiro Presépio, como o conhecemos, foi criado por S. Francisco de Assis em Greccio na Itália, em 1223. Era um Presépio vivo, com pessoas e animais, como pode ser visto na Igreja da Lapa antes e depois da Missa do Galo.

A ideia do Presépio espalhou-se com rapidez e seguindo o exemplo das ordens religiosas as famílias abastadas começaram a fazer encomendas a artistas. Em Portugal, no Século XVI já existiam inúmeros exemplos mas o período Barroco é que marca o apogeu da arte, destacando-se Machado de Castro que no Porto conta pelo menos com dois exemplares, nas Igrejas das Taipas e de S. Nicolau, e um terceiro que, embora não confirmado, possui todas as características atribuidas a este artista – podemos encontrá-lo na Igreja dos Grilos.

Probably from Machado de Castro, this 17th Century Presépio can be found at the entrance of Igreja dos Grilos.

Provavelmente da autoria de Machado de Castro, este Presépio do Século XVIII pode ser visto na entrada da Igreja dos Grilos.

Two soldiers show up behind the battlements holding a flag with the crescent flag from the ottoman empire

Pormenor: Dois sentinelas “Turcos” do Império Otomano vigiam do topo da muralha.

A white cloudy sky centering God with a dove at his chest.

Pormenor: Deus e a Pomba do Espírito Santo no peito observam das alturas. Na legenda a passagem referente ao nascimento de Jesus. Os anjos seguram a legenda que dita “Glória a Deus nas Alturas”, uma citaçao do Evangelho de S. Lucas ( 2:14) referente ao Nascimento de Jesus.

The three Kings bring gifts to baby Jesus.

Este fragmento de um retábulo do Século XV, representa “A Adoração dos Magos” e pode ser encontrada na Casa-Museu Guerra Junqueiro nas traseiras da Sé do Porto.

Ivory plaque representing the Nativity of Christ

Natividade em marfim do século XVII – arte Cíngalo-Portuguesa.
É frequente neste tipo de arte que o burro e a vaca sejam substituídos por animais fantásticos (à esquerda de S. José). De notar que só estão representados dois reis magos e não três (à direita de Maria).
Pode ser encontrado no Museu de Arte Sacra e Arqueologia.
Para saber mais.

Nativity, 2000

O Nascimento de Jesus é representado, por Irene Vilar, numa composição de prata e madeira, podendo ser encontrada na sala dedicada à escultora no Museu de Arte Sacra e Arqueologia.

This "Presépio" can be found in Igreja de Santo Ildefonso, close to Rua Santa Catarina and Praça da Batalha

Est Presépio está em exposição na Igreja de Santo Ildefonso, perto da Rua de Santa Catarina e da Praça da Batalha.
O Menino Jesus ainda não está colocado porque, segundo a tradição, por nascer no dia 25 de Dezembro só neste dia pode ser colocado.

The Three Wise Men are a bit early (this picture was shot on December 17th). Take a look at it in Igreja do Carmo.

Neste Presépio curioso, da igreja do Carmo, as personagens usam roupas verdadeiras, parecendo de roca (imagens que possuem uma estrutura interna e não corpo, tendo só as mãos, os pés e a cabeça em cerâmica ou madeira).
Os reis magos estão um pouco adiantados, já que só devem ser colocados no dia 6 de Janeiro (a foto foi tirada a 17 de Dezembro).

In Mercado do Bolhão, at the center fountain there's the tradition to create a "Presépio". Also on this place, on Saint John's festivities, in June, its usual to create a "Cascata" using the same kind of figurines. Take a look at the three wise man riding the camels women style :)

Na fonte que existe ao centro do Mercado do Bolhão, existe a tradição de se construir um presépio. Da mesma forma, durante o S. João, constrói-se a Cascata de S. João, usando o mesmo tipo de peças.
Reparem nos Reis Magos a cavalgar à amazona.

Podia descrever ao pormenor como se compõe um Presépio, mas acho mais prático que se inspirem nas imagens e construam o o vosso.Fica, no entanto uma lista de elementos essenciais

Para o Presépio básico vai precisar de figuras de barro, alguma madeira ou cartão para construir a cabana do Menino Jesus e musgo (sim, musgo!). Até ao dia 24 de Dezembro compõe-se com Maria e José, uma vaca, um burro e uma manjedoura. No dia 25 acrescenta-se o Menino Jesus e no dia 6 de Janeiro os três Reis Magos.

As ovelhas também são muito populares em conjunto com os pastores, graças a esta passagem da Bíblia (Lucas 2:8-12):”Ora havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam durante as vigílias da noite o seu rebanho. E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo.Pois, na cidade de Davi (Belém), vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: Achareis o menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura.”

A estrela também é uma escolha óbvia, mostrando aos três Reis Magos o caminho (Mateus 2:9-11): “E, tendo eles ouvido o rei, partiram; e eis que a estrela, que tinham visto no oriente, ia adiante deles, até que, chegando, se deteve sobre o lugar onde estava o menino. E, vendo eles a estrela, alegraram-se muito com grande alegria. E, entrando na casa acharam o menino com Maria sua mãe, e, prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, lhe ofertaram dádivas: ouro, incenso e mirra.” Esta é a razão porque existe a troca de prendas durante o Natal.

Casas, rios, montanhas, soldados, até músicos, podem estar incluídos no Presépio, depende da imaginação.

Se ainda está a pensar nisso, o musgo é para simular relva.

Locais:

Mercado do Bolhão – Seg a Sex: 07:00-17:00; Sab: 07:00-13:00; Dom: Fechado.

Casa Museu Guerra Junqueiro – Seg a Sab 10:00-17:30; Dom 10:00-12:30 (Última admissão 12:00) e 14:00-17:30 (última admissão 17:00) Feriados: Fechado.

Igreja de Santo Ildefonso – Seg: 15:00-18:30; Ter a Sab: 9:00-12:00 e 15:00-18:30; Dom: 9:00-13:00 e 18:00-20:00.

Igreja do Carmo – Seg e Qua: 8:00-12:00 e 13:00-18:00; Ter e Qui: 09:00-18:00; Sex 09:00-17:30; Sab 09:00-16:00; Dom 09:00-13:30.

Igreja dos Grilos AKA Igreja de S. Lourenço AKA Museu de Arte Sacra e Arqueologia – Ter a Sab: 10:00-13:00 e 14:30-17:00 Dom e Seg: Fechado.

 

Lello & Irmão – A Livra ...


A Livraria Lello & Irmão, no Porto, é um sonho para os amantes de livros e de design de interiores. Desde Agosto que se cobra um bilhete à entrada mas vale bem a pena!

Considerada como a terceira livraria mais bela do mundo pelo The Guardian e pelo Lonely Planet, e uma das mais “cool” pela Time Magazine e CNN, a Livraria Lello foi dedenhada de raíz para vender livros e para servir a Cidade como Templo de Conhecimento.

Concebida pelo Engenheiro Francisco Xavier Esteves, que também foi Presidente da Cãmara do Porto entre 1911 e 1913, esta maravilha da Arte Nova, inaugurada em 1906, vai mantê-lo de olhos arregalados durante a visita ao interior e ao exterior com tantos detalhes para descobrir.

Lello's façade depicting Arts and Science

A fachada da Lello com a Arte e a Ciência a dar as boas vindas.

A fachada, em estilo Neo-Gótico, apresenta pinturas de alegorias da Arte e da Ciência da autoria de José Bielman. Na janela que encima a porta principal podemos ler Livraria Chardron, o nome da antiga Editora que já foi proprietária da Lello e que editou dois dos maiores vultos das Letras do século XIX em Portugal, Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco.

Uma vez no interior, podemos seguir os carris da vagonete que era usada para facilitar a movimentação dos livros dentro da loja.

Lello's Stairway

A famosa escadaria da Lello

A icónica escadaria vermelha, ao centro, enquadra quase todas as fotos da Livraria e, diz-se que foi a inspiração para a livraria Flourish and Blotts e a Grande Escadaria de Hogwarts da Saga Harry Potter de J.K. Rowling.

De quase todos os ângulos é possível fazer fotos fabulosas.

A perspective from inside Lello's Bookshop

Uma das perspectivas da Livraria Lello

Sobre a escadaria, um belíssimo vitral providencia luz e indica-nos o lema da Lello: Decus in Labor – Dignidade no Trabalho. Há alguns vidros partidos, mas esperamos que com o dinheiro que se cobra à entrada os donos os possam restituir.

Se olharmos para cima, em toda a loja, encontraremos detalhes Neo-Góticos por todo o lado, escadaria incluída.

Carved wood on the stairway.A madeira das escadas com motivos vegetalistas

Por todo o lado há livros, desde os mais recentes até a alguns dos primórdios da loja, e aqui e ali, alguns bustos, encimados por baldaquinos góticos, que representam autores famosos como Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Tomás Ribeiro, Teófilo Braga e Guerra Junqueiro, da autoria de Romão Júnior.

Por mês, milhares de pessoas visitam a Lello, que desgastam e muito esta obra de arte. Os proprietários viram-se obrigados a criar um sistema de bilhetes que funciona como desconto em qualquer aquisição. Assim, paga-se 3€ para visitar mas é dedutível, inteiramente, em qualquer compra. Se é um visitante frequente, poderá pedir o Cartão de Amigo, grátis, que lhe permite visitas ilimitadas – para isto necessita de fornecer os seus detalhes pessoais.

Se não visitar o Porto em breve pode aceder a uma vista de 360º da Lello e, de certeza que vai marcar o voo para breve.

Lello & Irmão – Rua das Carmelitas 144, Porto

5 Mitos Urbanos – Harry Pott ...

J.K. Rowling só viveu no Porto durante dois anos mas foi tempo suficiente para se criar uma série de mitos urbanos que envolvem Harry Potter e a Cidade. 

Em 1991 a “mãe” de Harry Potter chegou ao Porto para ensinar inglês e foi aqui que, nas suas palavras,  “…escrevi o que se tornou o meu capítulo favorito de A Pedra Filosofal: O Espelho de Ojesed. Estou convencido que o Porto a influenciou muito mas até que ponto há um fundo de verdade nos mitos que circulam?

1. A Livraria Lello é a inspiração para a livraria Flourish and Blotts e a Grande Escadaria de Hogwarts

Circula uma teoria muito popular que defende que a Livraria Lello é a inspiração para a Livraria Flourish and Blotts. Prestando alguma atenção aos filmes e aos vídeo jogos, imediatamente se percebe que não há correlação, à excepção dos livros e das estantes, e mesmo isso…

Também se defende que as belíssimas escadas vermelhas inspiraram a Grande Escadaria de Hogwarts. Olhando para a foto é fácil de tirar uma conclusão, até porque os lanços de escadas de Hogwarts são linhas rectas, enquanto aqui são curvas.

Não estou com isto a afirmar que Rowling não se sentisse inspirada quando visitou a Lello que foi considerada a terceira mais bela livraria do mundo pelo The Guardian e pela Lonely Planet, e uma das mais “cool” pela Time Magazine e pela CNN.

Lello's Bookshop Staiway which might be the inspiration to Hogwarts Grand Stair

Escadaria da Livraria Lello

2. J. K. Rowling escreveu no Café Majestic e na Livraria Lello

É opinião geral que J. K. Rowling escreveu o primeiro rascunho de Harry Potter e a Pedra Filosofal num guardanapo no Café Majestic. Estamos a falar de um café da belle époque  onde somos servidos por empregados de farda branca e laço, e os guardanapos são de pano… Escrever neles, não me parece. em 1991, Rowling vivia com um orçamento, presumimos, apertado, e a vida era tão difícil para ela como o seria para os habitantes locais. O Majestic é o Café mais caro da cidade e, nessa altura também o devia ser. Se hoje em dia se paga 4 vezes mais do que nos outros cafés do Porto, nos anos 90 a diferença seria mais ou menos a mesma.

Também se diz que escreveu na Livraria Lello e, realmente, houve uma altura em que se servia chã e café, no início dos anos 2000, mas as mesas eram muito baixas, o que tornava o exercício da escrita muito difícil. Se lá tivesse escrito, com estas condições, o livro chamar-se-ia Harry Potter e o Torcícolo Infinito.

Escrevo, e sempre escrevi em cafés, e nunca escolheria nenhum dos sítios para o fazer. Seria mais lógico que tivesse escolhido o tradicional  Âncora D’Ouro (aka Piolho), onde sempre fui muito usual encontrar pessoas a ler e a escrever ou, então, num qualquer café perto da escola onde leccionava em Fernão Magalhães. Pelo menos os guardanapos eram de papel.

The beautiful Majestic Café

O belo Café Majestic

3. O Traje Académico como inspiração para o uniforme de Hogwarts

Se numa noite de Inverno um viajante vaguear pelas ruas estreitas do Porto, provavelmente vai esfregar os olhos quando se cruzar com um grupo de figuras embuçadas por uma capa preta e pensarão que foram transportados para a Diagon Alley. Mas, literaturas à parte, trata-se de estudantes universitários que usam o uniforme tradicional do Porto, que possuem algumas semelhanças com os da saga Harry Potter.

Quando estudava na Faculdade de Letras usei-o e, na altura chamavam-nos morcegos; Hoje em dia chamam-lhes Harry Potters.

O Traje está relacionado com a Praxe Académica, uma tradição com séculos originária de Coimbra, que foi introduzida no Porto no Século XX. É composto por um fato de cerimónia e uma capa negra que protege os estudantes do vento e da chuva; também serve como cama e cobertor…

De Setembro até ao final de Maio é vulgar encontrar grupos de estudantes nas ruas, embora não seja obrigatório usar o Traje. É uma escolha fazer parte desta tradição.

Nas capas dos estudantes é comum usar-se emblemas cosidos que simbolizam  uma multiplicidade de coisas: o local de origem, o clube de futebol, a Faculdade que frequentam, etc. Cada curso possui cores diferentes, que as distinguem, um pouco como em Hogwarts com as cores e emblemas das casas, Gryffindor, Slytherin, Ravenclaw e Hufflepuff.

É muito natural que J. K. Rowling se tivesse inspirado no traje académico e nos emblemas para criar as vestes dos jovens mágicos…

University students from Arts college.

Estudantes universitários da Faculdade de Letras

4. A Fonte dos Leões é a inspiração para a Casa Gryffindor?

O mito urbano mais recente é que a Fonte dos Leões é a inspiração para a Casa Gryffindor. A semana passada ouvi-o da boca de um guia e fiquei a considerar as hipóteses disto ser plausível.

É crença comum que as criaturas representadas são Leões, e muitos autores locais afirma que são outro tipo de criaturas, Grifos. Uma mera observação e a cabeça pensante em cima dos ombros, esclarece-nos: não são grifos porque lhes falta a cabeça e as patas de águia; na verdade são leões alados, com uma juba diminuta, nada mais, nada menos que o símbolo de São Marcos que podemos encontrar por todo o lado em Veneza.

Estou certo que Rowling estava informada da mitologia, dadas as inúmeras referências na sua obra, e não cometeria um erro de principiante como chamar alhos a bogalhos.

Já agora, há um grifo que aparece em todos os livros e em todos os filmes de Harry Potter: na entrada do escritório do Professor Dumbledore.

Lions Fountain in Porto

A Fonte dos Leões

5. António de Oliveira Salazar, ditador Português, inspiração para Salazar Slytherin?

Embora muita gente acredite que J. K. Rowling dafirmou que o nome de Salazar Slytherin’s  foi inspirado pelo do ditador António de Oliveira Salazar, na realidade foi o Professor Christopher Rollason  que o mencionou no seu artigo “An English teacher in Porto: In search of Joanne Rowling”.

Transcrevo a parte, traduzida por mim, em que o refere para que possam julgar de vossa justiça:

“…Uma referência evidente a António de Oliveira Salazar, o ditador fascista que governou Portugal (oficialmente como Primeiro Ministro) de 1932 a 1968 (…)Os anos que Joanne viveu em Portugal forneceram-lhe um nome sugestivo e adequado para a encarnação do Mal…”

Salazar governou como Presidente do Conselho de 1933 a 1968 e não de 1932 como sugerido por Rollason.

É perfeitamente possível que a inspiração esteja correcta, mas enquanto a autora não o confirmar, não passa de uma suposição.

Portugal's dictator António de Oliveira Salazar

Portugal’s dictator António de Oliveira Salazar

6. A Escovaria de Belomonte é a inspiração para as Vassouras Voadoras de Harry Potter?

Desde 2016 – a primeira vez que ouvimos a referência foi em Fevereiro – que se diz que a inspiração para a Nimbus 2000 e todas as outras marcas de vassouras da saga Harry Potter, tem origem numa visita de J. K. Rowling à Escovaria de Belomonte. Como todos os outros mitos, não há qualquer confirmação oficial e não passa disso, de um mito. Ao que parece, se envolve Rowling, Harry Potter e o Porto, tudo é possível mas temos que reconhecer que as vassouras e o ambiente da loja podiam, perfeitamente, fazer parte da Diagon-Alley.

Conhece mais algum mito relacionado com Harry Potter e o Porto? Partilhe as suas dúvidas ou certezas!