O Folar em Portugal é associado à Páscoa, existindo uma versão que será de origem Judaica. Nas pastelarias do Porto pode ser encontrado durante todo o ano nas opções doce ou salgada.
O Folar possui dois significados que estão associados um ao outro. O primeiro refere-se a uma espécie de bola que pode ser doce ou salgada, dependendo da zona onde é confeccionada, e que é apreciada na época da Páscoa. O segundo significado está ligado à tradição Católica, de na mesma época, os padrinhos oferecerem aos seus afilhados uma iguaria deste tipo. Com o tempo, deixou de se oferecer a Bola e substitui-se por dinheiro que se apropriou do nome Folar. Se as famílias do Norte de Portugal já gostam de falar alto, um pouco como os Italianos, é engraçado ver o ritual “mafioso” dos familiares passarem uma nota dobrada, até ao máximo possível, discretamente, aos miúdos da família.
Quando era mais novo, lembro-me de viver os últimos dias antes do Domingo de Páscoa antecipando o encontro com a minha Madrinha que, orgulhosa, me oferecia a “notinha”, que eu usava para comprar um livro. Nessa altura pensava que a Sexta-Feira Santa era o prelúdio dos dias de comer tudo o que me apetecesse – Domingo de Páscoa e Pascoela (Segunda-Feira) e que o centro do mundo era a religião Católica e que tudo daí derivava.
A semana passada ao fazer uma pesquisa sobre as comidas tradicionais da Páscoa, descobri alguns factos, interessantes, que tornaram a minha Semana Santa ainda mais interessante.
Antes de avançar temos que caracterizar o Folar, que se divide em duas versões, a salgada, que conta com carnes e enchidos de Porco, e a doce, com uma receita que pouco varia consoante as regiões e é facilmente identificável por ter um ovo cozido sobre o qual se coloca uma cruz feita de massa. O salgado é característico de Trás-os-Montes e Alto Douro, e o doce é mais comum nas Beiras – Alta, Baixa, Litoral e Interior – existindo também, aqui e ali, no Minho, Algarve e até Alentejo. O mais interessante é que a predominância do Folar doce é mais intensa em zonas de presença dos Marranos, os cripto-judeus que ficaram em Portugal, em segredo, depois do édito de expulsão de 1496.
Enquanto lia um artigo sobre as tradições associadas à celebração do Purim dos Judeus Sefarditas, descobri que o Folar Católico é, na tradição Judaica, conhecido como Huevos de Haman ou Foulare. Em Ladino, a linguagem dos judeus da Península Ibérica, uma mistura entre Português e Castelhano arcaicos, Foulare significa embrulhado ou envolto e que, decerto deu origem à palavra grega folariko que define o mesmo tipo de sobremesa.
O Purim relembra a vitória da rainha Ester e do seu tio Mordecai sobre Haman que tentou destruir os Judeus do Império Persa, como descrito na Meguilat de Ester. Estas festividades coincidem com o final do Inverno, início da Primavera e tem algumas tradições associadas como dar dinheiro aos pobres, enviar prendas em forma de comida, beber imenso álcool e degustar comidas tradicionais como o Folar, cujo ovo representa Haman na prisão.
Para os Católicos, o Folar tem uma lenda associada, que relaciona a Bôla da Páscoa ao espírito de Paz e Reconciliação.
Com alguma sorte, enquanto estiver no Porto, poderá encontrar outro tipo de Folar, da região de Fornos de Algodres, que pode ser outra ligação entre as tradições Judaicas e Católicas. Para os Judeus é um pão entrançado que se come em todas as celebrações desde o Hannukah ao Yum Kippur e também no Shabat, que se chama Challah. Também é comido na Pessach – palavra hebraica que dá origem à palavra Páscoa.
Se quiser descobrir um pouco mais das tradições Judaicas no Porto, contacte-nos e teremos imenso prazer em ajudá-lo.