Há lojas, e há Lojas com letra maiúscula e, ainda que os centros das cidades europeias cada vez mais pareçam clonados uns dos outros, o Porto ainda mantém algumas jóias que a diferenciam e vale a pena conhecer.
Nos últimos anos, no Porto, encerraram lojas quase centenárias, que estavamos mais que habituados a ver mas, que teimosamente, não visitavamos por saber que ainda tínhamos tempo. Enquanto preparamos este artigo uma das lojas que pretendíamos visitar fechou para abrir, umas portas abaixo, com uma roupagem moderna já sem a magia que nos chamara a atenção.
No entanto, no Porto há ainda lojas tradicionais e autênticas, que gozam de boa saúde e que se tem adaptado aos novos tempos sem borrar a pintura, com uma decoração adaptada, com perfil de Facebook, Site de Internet e conta de Instagram.
Convido-vos a visitar algumas das minhas favoritas.
Com as portas abertas desde 1948, a Casa Crocodilo deve o seu nome ao réptil que nos dá aos boas vindas a partir do tecto da loja. Está situada no número 67 da Rua Cimo de Vila, nas traseiras da Estação de S. Bento, numa zona dedicada a lojas de artigos de pele que, aos poucos vão dando lugar a outro tipo de negócios. São especialistas em solas e couros, com produção e reparação, e vendem diversos artigos de marroquinaria como carteiras, porta-moedas, cintos, porta-chaves, luvas e as populares pantufas da Serra da Estrela feitas de pele de ovelha e muito úteis durante o Inverno.
A Escovaria de Belomonte, fundada em 1927, é uma loja/oficina localizada no número 34 da rua com o mesmo nome, muito perto da confluência da Rua das Flores com o Largo de S. Domingos. Produzem e vendem escovas, de todos os tipos e de usos domésticos e profissionais variados, como roupa, sapatos, cabelo, barba, e uma escova (curiosa) de ourives usada para polir jóias – feita com fios de latão tão finos que consegue ser mais suave que uma escova de bébé. À entrada, encontramos logo uma série de vassouras que, segundo já se ouve dizer, inspiraram a escritora J.K. Rowling para criar as vassouras com marcas como Moontrimmer e Nimbus 2000 da saga Harry Potter.
Também vendem escovas de barbear da marca Semogue, uma marca Portuguesa, de S. Félix da Marinha e conceituada como uma das melhores do mundo que chamam a atenção do interior das vistosas vitrinas da entrada. O dono da loja, orgulhoso, explica-nos o que produz com a maquinaria exposta na parte traseira da loja e conta-nos que o negócio vai de vento em popa.
Na Casa Mousinho, na Rua Mouzinho da Silveira 118, muito pero da Praça do Infante e da Ribeira, começaram, em 1961, a vender tecidos variados e bandeiras até que se dedicaram em exclusivo ao negócio das bandeiras. Vendem-nas de todos os tamanhos, de uma face, de duas, bordadas, estampadas, em cetim ou tecido simples, de todos os países do mundo, de nações sem estado, de cidades, vilas, associações, de Tunas; estandartes, bandeiras, bandeirolas, galhardetes, almofadas, bandeirinhas; de Piratas e Clubes de Futebol. E se não tiver o que procura fazem por encomenda. Quem a descreve, e aponta a uma parede com um Atlas do mundo dentro de caixas com os nomes de países, é o dono, um dos fundadores, que ainda trabalha diariamente com todas as bandeiras na memória.
A Casa Hortícola, faz parte do Mercado do Bolhão situando-se num dos torreões, no número 304 da Rua Sá da Bandeira. Abriu em 1921, ocupando o espaço que pertencera à Salsicharia Internacional e, no espaço que parece ser de uma joalharia, vende todo o tipo de sementes, bolbos, plantas, flores e produtos para jardinagem. Aqui podemos encontrar sementes de todo mundo e também os clássicos portugueses do Norte como a penca de Natal ou a couve da Póvoa.
Felizmente, e graças a estas lojas que se sabem actualizar e manter vivas, podemos ter a esperança que os nossos filhos poderão comprar no comércio tradicional.